03 fevereiro 2011

A primeira família

Ossadas de 4 600 anos de pai, mãe e filhos
encontradas na Alemanha reforçam a idéia
de que o núcleo familiar floresceu e se
manteve através das eras por conferir
vantagens evolutivas aos humanos Leandro Narloch
 
Página na Revista Veja
ossadas encontradas num túmulo na Alemanha
e a reconstituição artística da posição de pais e filhos ao serem sepultados: exame de DNA comprovou o parentesco
Até meados do século XX, prevalecia entre os antropólogos a idéia de que a família nuclear era uma instituição apenas cultural. Ela está presente em mitos consagrados como Adão e Eva, a primeira das famílias, segundo a Bíblia. Hoje se acredita que a família nuclear tenha se estabelecido por trazer vantagens evolutivas. "É provável que a família nuclear tenha sido essencial para diferenciar a espécie humana, garantir sua sobrevivência e sua disseminação pelo planeta", disse a VEJA o biólogo holandês Frans de Waal, um dos maiores primatologistas da atualidade. Várias hipóteses apontam nesse sentido. Primeiro, as mulheres não têm uma época de cio e um período fértil visível, como as fêmeas de outros primatas. Assim, elas estão sempre prontas para o sexo, mesmo na gravidez. Nas gerações imemoriais, os machos que ficavam mais tempo perto das fêmeas tinham mais chance de ter relações no período fértil. Geravam mais descendentes que os aventureiros, que só apareciam de vez em quando. A relação estável também ganhou espaço porque, entre humanos, criar um filho não é fácil. O bebê exige cuidados especiais por mais tempo que outros primatas. Em ambientes hostis, como a selva ou a savana, proteger a criança era difícil. Sob a ótica do pai, estar por perto para arranjar comida, manter as onças afastadas e garantir a sobrevivência da prole representava uma superioridade evolutiva.
Estima-se que a consolidação da família nuclear tenha deixado marcas até mesmo na anatomia e na fisiologia humanas. Entre os gorilas, o macho mata os rivais e seus filhos para ficar com várias fêmeas. A seleção natural favoreceu apenas os gorilas de maior porte físico, que têm, em média, tamanho 40% superior ao das fêmeas. Entre os humanos, a diferença entre machos e fêmeas é de apenas 15%. Como mostra a imagem da família abraçada no túmulo encontrado na Alemanha, o instinto familiar é ancestral no Homo sapiens.
Arqueólogos!